Estou sempre alguns dias em atraso com as novidades comentadas, talvez seja porque prefiro pensar um pouco mais para depois expor opiniões. E aqui vai a minha. Concordo, e muito, com o que
Danuza Leão disse em sua coluna
" Certa pobreza" . Principalmente quando ela se refere a algo chamado dignidade, entendido aqui como auto-percepção, respeito a própria existência, atribuição de valor a si mesmo, características, realmente, distantes dessas pessoas a quem a colunista se refere no texto. "A pobreza urbana é agressiva". Sim , e digo mais, é feia.
Acreditar e aceitar que isto é a demostração cultural, dos até então oprimidos, é bater palmas ao fracasso educacional e social do país. Ler essas "mulheres com uma criança no colo, duas pela mão, levadas pelas mães porque não têm com quem ficar" e "adolescentes de short e camiseta", como algo fascinante da capacidade do pobre em vencer dificuldades, é o mesmo que legitimar o "nós vai". Se assustar com o texto da Danuza é, por consequência, achar que, com a licença de Caetano, "tudo é chique demais, tudo é muito elegante". Aliás, é exatamente isso que este governo quer nos empurrar goela a baixo: o milagre econômico da classe C, inadimplente e sorridente.
Danuza simplesmente tocou em um assunto tabu: a indiferença. Enquanto nós estamos acostumados a frequentar o Centro da cidade, e pouco nos importamos com tais figuras da miserabilidade, ela, acostumada com etiquetas Saint laurent e com os bailes do Copa, chocou-se ao ver que a fantasia e o ideal de muitos ali, de muitos JOVENS ali, não passavam de mero esmalte colorido nas unhas dos pés. Enquanto os intelectualóides insistem em achar teorias mirabolantes que institucionalizem a pobreza como algo belo, a socialite deu um show de bom senso, revelando, ainda que com argumentos superficiais, de quem conhece pouco a realidade que a cerca, a precariedade cultural e comportamental da classe pobre.